Jack White passou por Porto Alegre antes de seu show no Lollapalooza, em São Paulo. Sorte dos gaúchos. Não dá pra declinar uma apresentação dele, mesmo que dele você só se apegue ao passado, com o White Stripes ou com o Raconteurs, por exemplo.
Com dois disco solos, “Blunderbuss”, de 2012; e “Lazaretto”, de 2014; White não está atrelado ao passado, ele não volta ao Brasil (mais uma vez) pra saciar saudosismos. Ele tem algo a mostrar, ele está sempre se provocando e tentando algo novo.
Seu trabalho de pesquisa tecnológica e de resgate cultural realizado pela Third Man Records, selo do qual é dono, é um bom exemplo de inquietude.
A questão é: as pessoas querem ser incomodadas? Querem essa inquietude, esses novos caminhos? A sempre sagaz escriba Janaína Azevedo Lopes foi ao Pepsi On Stage pra tentar decifrar a resposta. E, aparentemente, não: o público quer os hits e pronto.
Ok, o que há de errado nisso? Esse é um problema pro artista resolver. O público está lá pra se divertir, pular e suar, mas é importante saber que Jack White tem muito a mostrar como artista, até mais do que as vinte uma canções que apresentou aqui – set que o olhar-ao-passado agradece, recheado de White Stripes e com um clímax explosivo.
INTENSO NO PALCO, FRIO NO PÚBLICO
Texto: Janaína Azevedo Lopes
Fotos: Divulgação
Depois do comentado show na Argentina, graças à participação de Robert Plant, Jack White iniciou sua passagem pelo Brasil com uma apresentação em Porto Alegre, na última terça-feira, 24 de março. Em cerca de duas horas, ele equilibrou hits massivos com músicas não tão populares de seus discos solo. O trunfo é a banda e seus músicos versáteis: de um blues eletrificado com cozinha pesada pra uma balada com rifes de violino e backing vocals country, leva-se o tempo de um piscar de olhos.
O Pepsi On Stage não é um primor de espaço pra shows, então muitas vezes o som de um conjunto de músicos tão rico e potente ficou embolado. Pra se ter ideia, quem ficou na pista normal, afastado do palco, não compreendeu muito bem o que Jack falava, nos intervalos entre uma música e outra.
O espaço não estava lotado. Me pareceu que a pista vip estava bem cheia, mas na normal havia verdadeiros vãos entre os presentes. Reflexo de um ingresso de preço alto pros shows que normalmente acontecem no Pepsi. Tanto que até em site de grupos de compras o bilhete foi parar (admito que foi assim que comprei o meu). Da mesma forma ocorreu com a apresentação marcada pra quinta-feira (Kasabian e Kooks, também sideshow do Lollapalooza em São Paulo). Pro Jack, o ingresso de pista normal custava R$ 180; o de pista vip, R$ 250; e mezanino, R$ 200.
O show começa e termina com White Stripes, a grande banda de Jack e uma das mais populares da década passada. De “Dead Leaves And The Dirty Ground” a “Seven Nation Army”, foram nove músicas da dupla. Do Raconteus, duas. E o resto do repertório veio dos dois bons discos solos. Neste show não tivemos nenhum cover.
Jack sublinha sua importância como compositor de rifes memoráveis, e cada integrante da banda tem seu devido destaque em uma ou outra parte da apresentação. Dean Fertita, o tecladista que já havia passado por aquele palco há alguns meses com o Queens Of The Stone Age, era só o que se podia ouvir em baladas como “Temporary Ground” e “Love Interruption”. Da dupla de violinistas Fats Kaplin e Lillie Mae Rische eram os momentos mais folk, sendo que ela foi a responsável pelos backing vocal e ele, a certa hora, tirou um som fantasmagórico do teremim. O baixista Dominic Davis, lá pelas tantas, sacou um enorme contrabaixo. O baterista Daru Jones chegava a ficar em pé tocando seu kit.
Os flashmobs, combinados pelos fãs principalmente da pista vip em redes sociais, não deram lá muito certo. Primeiro a proposta era jogar papel picado durante a execução de “Lazaretto”, mas sem uma combinação melhor entre os participantes, o ato ficou disperso e não deu o efeito desejado. Em “Seven Nation Army”, a ideia era levantar folhas de papel com a palavra “OH”, pra combinar com o canto do rife. Também faltou combinar: um levantava aqui, outro levantava lá, e não ficou muito legal, não.
Sem a ajuda do flashmob, ainda assim, foi esse o ponto alto do show, previsivelmente. Jack subiu na caixa de som, com um violão eletrificado pendurado em si, e soltou as notas, disparando o canto imediato da casa. Parecia um estádio de futebol – várias torcidas adaptaram a melodia aos seus cantos. Quem tava distraído, tirando fotos, bebendo cerveja ou algo assim entrou imediatamente no coro. Foi quando o chão do Pepsi On Stage, de concreto, começou a tremer sob os meus pés, coisa que nunca tinha presenciado em tantos shows que fui lá.
Dá pra entender a comoção: é muito legal ver um hit acontecendo na sua frente. A versão banda completa de “Seven Nation Army” ficou muito mais divertida e dinâmica, pesada e animada do que sua original minimalista.
Jack White, totalmente despenteado após o show tão intenso no palco, embora frio na plateia, sacou um pente, rearrumou o topete e agradeceu ao público com a banda lado a lado, aquela praxe do fim do show. Este fim de semana, é a vez de São Paulo. Tomara que seja tão legal quanto foi aqui.
01. Dead Leaves And The Dirty Ground (The White Stripes)
02. High Ball Stepper
03. Lazaretto
04. Hotel Yorba (The White Stripes)
05. Temporary Ground
06. The Same Boy You’ve Always Known (The White Stripes)
07. Weep Themselves To Sleep
08. Hello Operator (The White Stripes)
09. Top Yourself (The Raconteurs)
10. Steady, As She Goes (The Raconteurs)
11. Love Interruption
12. Sixteen Saltines
13. Missing Pieces
14. Astro (The White Stripes)
15. Broken Boy Soldier (The Raconteurs)
BIS
16. I’m Slowly Turning Into You (The White Stripes)
17. Would You Fight for My Love?
18. That Black Bat Licorice
19. Sugar Never Tasted So Good (The White Stripes)
20. Little Bird (The White Stripes)
21. Seven Nation Army (The White Stripes)
Aqui, uma ideia de como foi o clímax da apresenação, com a estupenda “Seven Nation Army”: