O domingo, dia 7 de julho de 2013, caiu bem no meio do feriadão paulista, de 9 de julho. O inverno não estava a toda e mostrava-se mais próximo de um quente outono, com seus vinte e tantos graus de temperatura. A cidade vazia pressupunha pouco público pro show de Jair Naves no Centro Cultural São Paulo, na revivida Sala Adoniran Barbosa.
O público, se não chegou a ocupar metade das dependências (de um total de 650 lugares), deve ter girado em torno de cento e cinquenta presentes, o que pra um artista independente (ou semi-independente), dada as circunstâncias, é uma vitória.
Com vinte minutos de atraso, Jair e sua banda (Renato Ribeiro, guitarra; Thiago Babalu, bateria; e Rafarel Finas, baixo) ocupam o palco 360 graus da sala e sem muitas palavras começam com “Pronto Pra Morrer (O Poder De Uma Mentira Dita Mil Vezes)”, “Poucas Palavras Bastam” e “Carmem, Todos Falam Por Você”, as três do primeiro disco cheio, “E Você Se Sente Numa Cela Escura, Planejando A Sua Fuga, Cavando O Chão Com As Próprias Unhas”, de 2012.
Jair falou pouco nesse show. Sempre simpático, com boas histórias, dessa vez ele se comunicou menos com a platéia. Fez algumas brincadeiras, como quando “homenageou” o deputado-pulha Marco Feliciano com “Covil De Cobras”; citou o amigo e pianista Alexandre Xavier, ausente por estar de partida pra Alemanha, e a quem dedicou “A Meu Ver”; e falou, claro, da mãe, quem sempre cita antes de mandar a bela “Maria Lúcia, Santa Cecília E Eu”.
O problema é que o som do CCSP não estava dos melhores. Estava alto, embolado e vez por outra falho. Quase estragou a linda e introspectiva “A Meu Ver”, desconectando o violão de Ribeiro e o microfone de Jair, que teve que improvisar; embolou a melhor canção de Jair, “Maria Lúcia, Santa Cecília E Eu”; e abafou os vocais por toda a apresentação – quando Jair cantava longe do microfone sua voz parecia mais potente e a letra podia ser identificada. Baixo e bateria constantemente se sobrepunham deixando a massa sonora grave demais, quando uma das belezas do som de Jair está nas sutilezas, em alguns silêncios, na leveza.
Simpatia e um repertório forte, delicado e acessível garantem ao público que o show de Jair sempre vai ser bom, mesmo quando o som não ajuda. Ele se entrega, sua a camisa (literalmente), tem uma banda competente e afiada, e é sempre reverente com a plateia. Mas nem sempre vai ter tudo a favor. A saída? Ver o máximo possível de shows dele: não é sempre que as circunstâncias jogam contra.
01. Pronto Para Morrer (O Poder De Uma Mentira Dita Mil Vezes)
02. Poucas Palavras Bastam
03. Carmem, Todos Falam Por Você
04. Araguari
05. Covil De Cobras
06. Maria Lúcia, Santa Cecília E Eu
07. No Fim Da Ladeira, Entre Vielas Tortuosas
08. Guilhotinesco
09. A Meu Ver
10. Eu Sonho Acordado
11. Silenciosa
12. Um Passo Por Vez
13. De Bronquidão Hospitalar
Veja as duas primeiras do show, “Pronto Para Morrer (O Poder De Uma Mentira Dita Mil Vezes)” + “Poucas Palavras Bastam”: