Talvez nem mesmo a banda pudesse imaginar uma noite tão especial. O show do James no Cine Joia foi um daqueles casos em que adjetivar como “surpresa” teria um sentido de mão dupla, até mesmo pros fãs mais ardorosos.
Até mesmo pelo histórico.
A banda inglesa já havia passado pela América Sul em outras oportunidades, mas não pelo Brasil. Dessa vez, conseguiu-se um acerto, mas inexplicavelmente, apesar de ser a primeira vez no país, só uma apresentação e em São Paulo.
Pelo número de sucessos de amplitude média que emplacou no final dos anos 1980 e começo dos 90 (“Sit Down”, principalmente), era de se esperar que a banda tivesse vindo antes e que suas músicas, de alto apelo mercadológico, pudessem inspirar um número muito maior de pessoas a se deslocar ao Cine Joia, na noite fria dessa segunda-feira, 30 de abril, véspera de feriado.
Só que nem tudo funciona como se imagina nesse mundo quase previsível da música pop. O James só veio agora, seus sucessos não foram retumbantes e o Cine Joia, a despeito dos vinte e seis anos de espera, não estava lotado. Cheirava a fracasso, pra falar a verdade.
E o roteiro seguia como sempre, no Cine Joia: show começando num horário a se desprezar o uso do metrô vizinho – e com atraso. A banda subiu ao palco meia hora após o combinado e começou com uma dupla pouco aconselhável: a bela e lenta “Dust Motes”, do recente “The Morning After” (2010); e “Five-O”, a mais fraca do seu melhor disco, “Laid” (1993). A banda (e o acaso) parecia querer provocar um incômodo.
Então, a redenção, já na sequência inicial: “Seven” (com seu verso icônico, “unterstand the world we’re living in”), “Ring The Bells” e “Laid”. A banda fez todo mundo esquecer o atraso de vinte e seis anos e meia hora, e o início apático. James finalmente estava na nossa frente.
Tim Booth, com sua dança epiléptica e seu carisma e vontade de tocar e ser tocado (não pense maldades…), foi ao público, em “Seven”, na beira do palco, mas principalmente e surpreendentemente, em “Born Of Frustration”, cantando no balcão do bar principal da casa. Ganhou até um beijo (de língua, não recusado) de um fã mais ousado.
Essas atitudes ganham qualquer plateia. O septeto sabe disso. E abusa delas. O público responde com palmas, coros e beijinhos. Mesmo a idade média sendo elevada, na casa dos trinta, quarenta anos, todos se comportam um tanto como adolescentes. Essa é a intenção. Não é revivalismo, porém, é uma festa mesmo, ou apenas a chance única de ver uma banda relevante pra adolescência de muitos.
É um sentimento que tem mão dupla. A banda sente o carinho e volta e meia olha um tanto embasbacada aquela turba entusiasmada. Tim Booth brinca com isso, com seu humor por vezes grosseiro. É tudo divertido. Até que vem “She’s A Star” e “Sit Down”, pra colocar todo mundo pra dançar.
Mesmo jogando pra agradar, o James ainda usa seus artifícios mais ousados, o violino elétrico de Saul Davies e a guitarra de Larry Gott, pra criar epílogos musicais cheios de distorções e ruídos. Foi assim em “Slutter”, música que dá título ao primeiro disco da banda, mas que não entrou na edição final (apenas no ao vivo “One Man Clapping”, de 1989), foi assim em “Tomorrow” e em muitas outras.
A recompensa de uma noite que esgotou saudades (e cordas vocais), foi os dois bises. O primeiro nem chegou a ser um bis de fato, já que só parte da banda se ausentou do palco. Mas após “Getting Away With It (All Messed Up)”, o grupo se despediu, saiu, as portas do Joia se abriram, algumas pessoas deixaram o local, mas os insistentes pedidos fizeram Booth e Gott voltarem pra “Sometimes” – que ganhou pouco a pouco a participação de todos da banda.
O James foi literalmente arrancado dos camarins pelo resultado épico de sua apresentação.
Há de se perguntar o que pode ter dado errado nos trâmites do destino pra essa banda não ter estourado como o U2, por exemplo. Pra aquelas pessoas surpresas no Cine Joia, porém, o James pareceu por duas horas bem maior do que qualquer comparação.
01. Dust Motes
02. Five-O
03. Seven
04. Ring The Bells
05. Laid
06. Johnny Yen
07. Hey Ma
08. Play Dead
09. Born Of Frustration
10. Say Something
11. Top Of The World
12. Lose Control
13. She’s A Star
14. Sit Down
15. Stutter
BIS
16. P.S.
17. Tomorrow
18. Sound
19. Getting Away With It (All Messed Up)
BIS
20. Sometimes
Veja “Seven”:
“Laid”
“Born Of Frustration”
Parabéns pela crítica e cobertura do evento!
Muito boa a resenha do show.
Para mim até que o local estava cheio, mas não tenho um ponto de comparação correto, porque esta foi a segunda vez que fui no Cine Jóia, a primeira foi no show da desconhecida banda dos anos 80 Pink Industry.
Eu não sei o que esperava desse show, quase desisti de ir por conta do frio e da chuva. E também porque a primeira vez que vi eles ao vivo, num clube de mesmo tamanho em Tóquio, lá pelos anos 90 depois que eles lançaram o álbum “Laid”, foi meio que decepcionante.
Lembro que quando entrei lá no palco tinha vários banquinhos, violões, bongô e pensei, que porra é essa? Será que entrei no show certo?
Quando a banda entrou e eles se sentaram nos banquinhos, já estava vislumbrando a desgraça que viria pela frente. Explico, naquela época era a febre dos Acústicos MTV. Pois é, eles cometeram a heresia de tocar músicas extremamente pulantes com “Sit Down” em formato acústico.
Lá pelo meio do show quando a japonesada estava caindo no braços de Morfeu, eles se levantam largam os violões e pegam os instrumentos elétricos e o Tim Booth grita, “Agora vai começar o James de verdade”. O show foi salvo por esse resto não acústico.
Em São Paulo achei o começo bem morno, mas quando entraram as músicas com mais energia o negócio incendiou, vários tiozinhos e tiazinhas pulando e cantando sem parar. Eu até já estava na porta de saída, quando começaram a tocar “Sometimes”, voltei correndo lógico.
O pessoal da banda ficou bastante impressionado com o famoso grito de shows importado da Argentina, o “olé olé olá”.
mto boa a critica, parabens.
o show foi realmente surpreendente, e como vc disse, nao da pra entender o mundo da musica pop – algumas bandas fazendo tanto sucesso e outras tao pouco.
mas nao deixa de ser sorte nossa, que vimos o james bem de pertinho!
tim booth é o cara !! esperamos a volta se possivel no cine joia .. foi excelente show de camarote …
Amigos, o show foi um espetáculo, e a crítica esta muito bem costruída. PUTA SHOW
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