Jonathan Tadeu está envelhecendo. E, com isso, vai sublinhando seu eu pessimista, amargurado, deprê e sem muito louros pro mundo. Bom, não o conheço pessoalmente, mas tendo em ouvido as oito músicas de “Intermitências” e vivendo em um momento particularmente difícil pra história da sociedade, é compreensível tanta amargura e desilusão. A humanidade deu errado e o fim do mundo nos ronda.
O fim do mundo (ou da vida, ou de tudo), aliás, está permeando quase todas as músicas. As palavras “fim” e “mundo” surgem insistentemente em quase todas as canções.
Ele diz, com insistência, que “Intermitências” não é um disco sobre a pandemia: “é importante registrar essa informação pois, apesar de ter sido completamente produzido no período daquilo que viemos a chamar de ‘quarentena’ (insira muitas aspas), o novo álbum de Jonathan Tadeu provoca outras feridas, levanta outras questões”.
“Talvez seja sobre se encontrar ainda que na solidão, no vazio de uma vida fatigada pela rotina, na percepção de que talvez falte ânimo pra aguentar lugares e pessoas e que, sim, alguns lugares e pessoas precisam ir embora”, sublinha.
Ele está desolado, cansado (a capa entrega).
Um disco triste e nada esperançoso. Uma obra que soa até redundante, como eco: aparentemente a maioria das pessoas está se sentindo (ou estava) exatamente assim e não há muito na poesia do álbum que ofereça alguma novidade ou descoberta.
“‘Intermitências’ acabou sendo um álbum criado em um momento difícil, que, em contrapartida, poderá servir de companhia e consolo para quem o escuta”, ele escreve. Sim, mas também parece ter chegado tarde ou ficado “datado” (insira muitas aspas) rápido demais.
Uma doença nova, sobre a qual a humanidade, apesar de dez meses de estudos intensivos, pouco sabe, abriu as portas pra uma doença já bem mais conhecida: a depressão. E aí, incluindo aquele preconceituosos sobre o tema, pode-se afirmar que a maioria experimentou sentimentos angustiantes neste ano.
Apesar disso, há ótimos momentos no álbum. Afinal, Jonathan Tadeu é um artista “operário”, ele mecaniza em artes suas emoções, sem um aparente polimento. Torna as coisas mais “sinceras”, por assim dizer.
“Homem De Bem” tem uma letra que segue o tema do álbum (tem “fim” e tem “mundo”, ok), com versos bem mais raivosos e deliciosos, como “Hoje o meu coração se tornou vingativo / Eu só queria ver deus / Queimando um homem de bem” – uma passagem que, convenhamos, já valeria o disco.
Mas ainda tem a ótima “Éramos Jovens Emocionados”, que soa como um ótimo Legião Urbana que o Legião Urbana não fez; tem a mais raivosa “Sentir Ódio cansa”; e tem a acolhedora e acessível (sonoramente) “Todo Dia Eu Torço Prum Final Feliz”.
Tadeu já fez melhor – “Sapucaí”, o disco anterior, vá lá ouvir – entretanto, é preciso dar um desconto e vamos de clichezão: cada um recebeu, assimilou e lidou de uma forma diferente com a pandemia e a morte iminente.
Um disco triste foi sua resposta.
O trabalho foi lançado em 2 de outubro de 2020, pela Geração Perdida de Minas Gerais.
Foi todo escrito, executado, produzido, gravado e mixado por Jonathan Tadeu. A masterização é de Vitor Brauer.
Segundo as notas, Pedro Flores toca guitarra solo em “Palestra Motivacional”; Fernando Motta faz o vocal de apoio em “Éramos Jovens Emocionados”; e Luden Viana toca guitarras em ” É Difícil Encontrar Um Amigo”.
1. Penso e Perco Tempo (clique aqui pra ver o vídeo)
2. Palestra Motivacional
3. Éramos Jovens Emocionados (clique aqui pra ver o vídeo)
4. O Amor É O Troço Mais Difícil Do Mundo
5. Homem De Bem
6. Sentir Ódio Cansa (clique aqui pra ver o vídeo)
7. Todo Dia Eu Torço Prum Final Feliz
8. É Difícil Encontrar Um Amigo