Eu tenho sicneras dúvidas se é possível não gostar de um show do Labirinto. Por mais que você tente, uma hora terá que se deparar com a música e vai ter que sucumbir. Você há de sucumbir diante da impressionante força musical (e teatral) dessa banda. Não há como escapar. Ainda mais vendo ao vivo – e tão próximo.
O Centro Cultural São Paulo, com seu palco principal em obras, anda jogando as bandas pra biblioteca, sem pensamento acústico, sem luzes, sem palco – uma gabiarra. E mesmo assim fica difícil não gostar do Labirinto.
Quando a banda entrou no tablado (não era exatamente um palco), viu-se diante de uma plateia abarrotada – e ansiosa. Havia perto de duzentas pessoas bem sentadas, bem acomodadas, aguardando os primeiros acordes. Era 21:05h, cinco minutos de atraso. E o Labirinto colocou-se a encantar.
Os primeiros acordes de “Cairo” fizeram a plateia entender: ali estava mais do que uma banda preciosa, havia acordes preciosos, ideias preciosas, músicas preciosas. “Cairo” era uma delas. A primeira delas. Infelizmente, não vieram muitas mais. Foram seis no total, duas no bis. Mas foi o suficiente pra uma hora preciosa.
O que faz de tantas microfonias, ruídos, duas baterias (brilhantemente sincronizadas), três guitarras, um baixo, um violoncelo e um teclado/sampler/mixer serem algo tão perseverante na nossa ideia de delicadeza e dignidade musical?
Há resposta em vários adjetivos e substantivos. Basicamente, o Labirinto é um grupo coeso em torno de uma ideia (e mentes – de Erick Cruxen e Muriel Curi, uma baterista jazzística inigualável no cenário pop nacional), a fazer drones, ruídos, distonias, experimentações, em músicas reflexivas e ardentes.
Das seis músicas, seis foram hipnóticas no uso excessivo e insistente do naipe de pedais e distorções, na sincronia das três guitarras, cada uma na sua, cada uma com sua utilidade, nas duas baterias persuasivas, nos samplers climáticos, nas projeções ao fundo.
O local não era adequado. O som estava baixo, não havia acústica ideal. Mas Labirinto é uma daquelas experiências musicais pra se absorver sob qualquer aspecto, sob qualquer adversidade. Três músicas de “Anatema” e três do novíssimo “Kadjwhyn EP“, só que era tudo uma coisa só, uma delírio só, uma viagem só. Não há como definir a experiência Labirinto, a não ser como extraordinária e sempre surpreendente (pois, única). Principalmente ao vivo.
Porque a Labirinto solidifica a distância aproximada: o artista se transforma em cima do palco e, o melhor, transforma a plateia. Ninguém sai da mesma forma que entrou. Os ouvidos zunindo, a alma apitando de fervor. O espanto. Quando é mesmo o próximo?
1. Cairo
2. Flagelo
3. Anatema
4. Piam Ket
Bis
5. Tuira
6. Incendiários
Veja, o bis inteiro, com “Tuira” e “Incendiários”: