Quando algum gênio trouxe o Los Tones pro Brasil, em 2015, ninguém deu muita bola. Shows pra plateias minúsculas, em lugares pequenos da capital paulista e alguns SESCs pelo interior do estado, passaram tão desapercebidos quanto foram novamente esquecidos semanas depois. Eu mesmo perdi a turnê (por não estar na cidade) e me arrependo. Talvez seja oportunidade única, daquelas que não voltam mais.
O quarteto de Sidney, Austrália, tinha apenas um disco no currículo à época, “Psychotropic”, lançado em 2014, que você ouve aqui. Passados dois anos da sua atuação em solo brasileiro, os australianos têm novo disco, “What Happened”, lançado dia 4 de abril de 2017, via Groovie Records.
Bodie (guitarra e vocal), Shaun (baixo e vocal), Leigh (bateria e vocal) e Nick (guitarra e vocal) novamente apresentam um garage rock sessentista agudo, milimetricamente sujo, distorcido como tem que ser e subterrâneo como sempre vai ser.
Ouça na íntegra:
As dez músicas produzidas pela banda e por OIwen Penglis fazem reverência aos Sonics e, de acordo com o próprio grupo, aos peruanos dos Los Saicos (leia a história deles aqui). Os pretensos neo-psych do Tame Impala sempre chegam como comparação, o que é imediatamente rechaçado pela banda. Ao contrário dos conterrâneos mais famosos, o Los Tones não está aqui pra amaciar ou parecer doidão-de-butique.
Quem comprou a briga do Los Tones foram os surfistas australianos, que utilizam o som dos caras nos vídeos de suas manobras. Tem tudo a ver. Em “What Happened”, mais ainda do que em “Psychotropic”, o Los Tones vem da mesma garagem imagética de onde saíam os primeiros pranchões californianos que depois povoaram filmes adolescentes nos anos sessenta. Há uma agressividade natural de uma juventude com boas oportunidades futuras, mas que não se vê encaixada nas hortas humanoides de consumo, bem mais acentuadas nesse novo século.
“The Door”, “What Happened”, “Eye Jammer” (a mais empoeirada), todas são bons exemplos de uma guitarra suja, mas sem maneios e apetrechos mais, vocal gritado (mas com efeitos apaziguadores), bateria e baixo cíclicos e uma enorme capacidade de transportar o ouvinte a uma viagem bem pessoal a praias, cores e loucuras únicas.
“What Happened” é o disco certo pra uma nossa tumultuada época de rasteirices argumentativas. A ilusão de que o houve uma época em que a juventude tinha controle sobre a própria raiva.
Vídeo de “The Door”:
01. Battery Acid
02. Wasted
03. The Door
04. Running Out Of Time
05. What Happened
06. Eye Jammer
07. Sinking In
08. Rat Bag
09. Hold On
10. Witch Hazel
