A superconhecida história do karaokê promovido por uma operadora de telefonia alemã em Londres completou seis anos em 2015 e ainda impressiona.
Conhecido como “o dia em que a Inglaterra cantou”, o que convenhamos é um tremendo exagero, dado o histórico musical dos ingleses, o dia 30 de abril de 2009, pelo menos, mostrou a poder espontâneo a música, a despeito do empurrãozão da força publicitária.
Apesar do caso ser famosíssimo, vamos recordar.
Em 2009, a tal operadora alemã realizou um flash mob na Liverpool Street Station que foi um sucesso, numa época em que, você se lembra, flash mobs faziam sucesso. Ok, são poucos anos atrás, mas as modinhas dessa geração internética mudam realmente mais rápido que a duração de um flash mob.
Meses depois, dado o alcance da ação, a agência responsável pela campanha “Life Is Sharing” resolveu ampliar seu impacto. O princípio era simples: flash mobs podem até ter participação do público, mas não garantem que eles vão participar. Aquelas pessoas eram dançarinas, sabiam o que estavam fazendo e ensaiaram tudo com profissionais. Como transformar o mote de que a “vida é pra ser compartilhada” ou “viver é compartilhar” com pessoas reais e potenciais consumidores de verdade?
A resposta veio de uma forma ousada: fechar a Trafalgar Square, bem no centro de Londres, e chamar as pessoas a participar de uma ação, que remete à ação da dança mas não entrega o que seria.
O vídeo incitava (e milhares de folhetos distribuídos nas ruas também): “quer fazer parte do próximo evento?”. Já dava a entender que quem comparecesse não iria ser surpreendido, porque sabia que iria acontecer alguma coisa, e mais do que isso, iria também participar. Quem topasse, só precisaria estar no dia marcado, no local marcado, entre seis e sete da noite.
A agência foi esperta: tratou de chamar o ato de “evento”/”acontecimento”, afinal ninguém gosta de ser deliberadamente massa de manobra de peças publicitárias.
Bem, elas seriam, mas não do jeito que imaginavam. Nem do tamanho que imaginavam. Nem mesmo cliente e agência tinham noção do tamanho da resposta do público. Numa quinta-feira, mais de treze mil pessoas compareceram à Trafalgar Square. A agência preparou-se de forma bem mais modesta e levou apenas dois mil microfones pra ação.
Com um telão e microfones nas mãos (e um animador de eventos, é claro), as pessoas ligaram os pontos e entenderam o que aconteceria: karaokê, o maior karaokê de suas vidas e – como se viu depois, o mais emocionante.
A peça principal era com “Hey Jude”, dos Beatles, num momento da história em que músicas dos Beatles raramente podiam aparecer em peças publicitárias. A música começa a tocar alto. A letra aparece no telão. As pessoas começam a cantar. Nas ruas em volta, as pessoas param pra ver e se juntam pra tentar fazer parte daquilo. A música se ouve ao longe. E não há força maior do que a música cantada por muitas pessoas. Uma música do Beatles. Um refrão poderosíssimo, conhecidíssimo.
O resultado é de arrepiar (graças também ao bom vídeo final, com ótima edição). Sorrisos, lágrimas, pessoas abraçadas realmente compartilhando aquele momento. Nem se lembravam que estavam num comercial de telefone celular (depois, tiveram que autorizar a exibição de suas imagens, num trabalho hercúleo de produção).
Ali no meio, uma estrela jovem: Pink, menos de trinta anos, loira, sorrisão nos dentes, uma voz profissional.
Com ela, outras canções foram entoadas: “Baby One More Time”, sucesso com a Britney Spears; “Total Eclipse Of The Heart”, Bonnie Tyler, tão emocionante quanto a peça original que foi ao ar; “Summer Nights”, com John Travolta e Olivia Newton-John, do filme “Nos Tempos Da Brilhantina” (“Grease”, 1978); “Piece Of My Heart”, Erma Franklin; e, claro, “So What”, megasucesso da Pink, lançado um ano antes, em 2008. Todos os vídeos dessa ação e de outras correlatas, você pode assistir aqui.
Nada supera a edição final do vídeo com “Hey Jude”, apresentada pela primeira vez no programa de calouros mais famoso do mundo, o “Britain’s Got Talent”.
Aqui, a versão sem cortes, de quatro minutos, com mais de sete milhões de visualizações no YouTube. É uma peça publicitária, mas é uma amostra impressionante do poder aglutinador da música.
Pra cantar junto e abrir um sorrisão: