“Mas o mundo não acabou. Ainda. De qualquer forma.”.
No final que semana que passou, fui gastar um troco nas galerias da 24 de Maio, em São Paulo. Para quem conhece, é um passeio e tanto: comer um bolinho de bacalhau na 7 de Abril, comprar uns CDs, descobrir que a Internet deixou essas lojas milhas atrás em velocidade de lançamentos, tomar um chope no Mercadão, enquanto tenta engolir um gigantesco sanduíche de mortadela, e ainda passear naquelas ruas sensacionais quando vazias.
Comprar direto nessas lojas tem ainda uma grande vantagem: o preço. Dirão os idiotas que baixar na net é de graça, mas eu sou um romântico, ainda acho que é bacana ter os CDs originais comigo, com capa, encarte, letras, informações e tal. E todos os quatro que eu adquiri tinham as letras encartadas: “Neon Bible”, do Arcade Fire; “The Beatic Visions”, do Brakes; “Someone To Drive You Home”, do Long Blondes; e “Through The Windowpane”, do Guillemots. É sobre esse último que eu quero falar.
Belo disco. Com uma ou outra escorregada pretenciosa, principalmente do vocalista e pianista clássico Fyfe Dangerfield, o disco é realmente espetacular, tal e qual já haviam me avisado. Há cinco grandes musicas que não me deixam mentir, na ordem: “Made Up Love Song #43”, “Trains To Brazil”, “Redwings”, “If The World Ends” e “We’re Here”. Já valem o disco. Pena que ficou de fora “Who Left The Lights Off Baby”, a que eu achava ser a melhor música de 2006.
Os caras da banda devem achar o guitarrista brasileiro de codinome constrangedor, MC Lord Magrão, um sujeito e tanto e o Brasil o lugar mais exótico do mundo. Tanto que há no disco três referências ao País dos Gaiatos & Gatunos, “Trains To Brazil”, a apoteótica “São Paulo” e “If The World Ends”, que se encerra com uma colagem de voz infantil dizendo a citação que inicia esse post. A língua portuguesa deve exercer um fascínio tremendo nos ingleses, ou pelo menos em alguns mais metidos a besta.
O Guillemots, entretanto, é uma banda e tanto. Ao contrário da maioria das atuais inglesas, que tentam parecer um Clash piorado (ou um Libertines “profissional”), incluindo aí algumas que nós curtimos aqui no Floga-se (como Good Shoes, Pigeon Detectives, Cribs, Futureheads, Rakes, Holloways, Fratellis); ou outras, que tentam parecer anos 80, incluíndo aí bandas que também gostamos (como Killers, Kaiser Chiefs, Bloc Party); o Guillemots não tenta parecer nada disso. Tenta fazer belas canções, para momentos, digamos, introspectivos. E consegue. Parece às vezes, como “Little Bear”, trilha de filme. É só uma banda que faz música boa.
Ah, não posso esquecer! Na edição nacional, há uma “surpresa”, na quinta música. Se você comprou o CD, deve estar na capa informando “Come Away With Me”, mas vai aparecer no seu MP3 player “A Samba In The Snowy Rain”. É a mesma coisa. E mais uma brasileirice do disco.