Agitador cultural é um termo meio batido, mas ele se aplica perfeitamente a Anderson Foca. Senão, vejamos.
Ele tem seu lado “artista”, tocando com a Camarones Orquestra Guitarrística, uma banda instrumental que está entre as que mais tocam no Brasil (e ainda faz barba, cabelo e bigode pela Europa). Criou em 2002 um dos mais importantes festivais independentes do país, o DoSol (hoje não mais “independente”), em Natal, Rio Grande do Norte; uma marca que também é centro cultural, selo virtual e estúdio, recebendo bandas, gravando, filmando, promovendo, mandando novidades aos ouvidos alheios. Tem tudo aqui no site oficial.
Se isso não é promover um “agito cultural”, deverá ser difícil definir o termo.
Pela sua importância pra música independente brasileira (vale ler essa entrevista que o AltNewsPaper publicou em 2012), mais atuando do que falando, mais realizando do que “politicando” (como inevitavelmente se pensa), Foca é um daqueles já deixaram uma marca positiva na estrutura da música brasileira.
Antes de fazer o fez e ainda fará pela música, a vida lhe apresentou algumas portas de entrada pra essa arte. Nessa edição de “Os Discos Da Vida”, ele lista dez das que abriu e conta o que encontrou lá dentro, como cada disco o impactou e apresenta uma ideia de como essas obras moldaram sua vida.
Se hoje ele propicia oportunidades pra outros músicos mudarem as vidas do grande público DoSol, tudo começou assim. Discos que fizeram dele o inquieto de hoje. Ao ouvi-los, algo agitou suas ideias.
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ANDERSON FOCA
Weezer- “Weezer” (1994)
Quando eu era guri comprava discos pela capa. Fiz isso centenas de vezes e quando fui ficando mais esperto com música levei o vício comigo. Certo dia, numa megastore de discos chamada Aky discos (muito popular no Nordeste todo), os discos da gravadora Geffen estavam numa mega promoção. Tipo três reais a unidade. Levei vários títulos: Helmet, Sonic Youth, entre outros, e no meio dessa venda cega peguei o Weezer. Foi paixão à primeira vista e eles se tornaram uma das minhas bandas favoritas até hoje. Ano passado fui atrás deles em Cincinatti (EUA), show lindo. Gostei tanto da banda que voltei e comprei as outras unidades disponíveis do mesmo álbum pra dar aos amigos. Tempos depois, numa dessas idas de bandas undergrounds na minha cidade, o Rafael Ramos (da Deck), na época baterista do Jason (RJ), pegou uma dessas unidades e outros títulos que ele gostava de ter. Weezer é igual pizza, até ruim é bom.
Ouça “Say It Ain’t So”:
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Ramones – “Rocket To Russia” (1977)
Ramones, né, gente? Quem pira rock direto, pira Ramones de cara e aí não tem jeito, fica na pele. Eu pegava onda em Natal logo que cheguei por aqui em 89. Tínhamos um ritual antes de surfar que era ouvir esse vinil completo. Época boa de surf e rock all day.
Ouça “Rockaway Beach”:
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The Clash – “London Calling” (1979)
Mesma coisa, outra álbum que preparava a molecada pro surf. Hoje, com o afastamento natural e a música virando minha vida, o Clash aumentou ainda mais a importância na minha formação. Principalmente pelo poder de mudar, de se reinventar como banda que eles tinham no seu DNA.
Ouça “Lover’s Rock”:
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New Order – “Substance” (1987)
Mesmo parecendo um álbum de inéditas, o “Substance” já era uma coletânea dos inesquecíveis New Order. Essas músicas embalaram minhas primeiras matinês em locais como o Círculo Militar em Belém e outras festinhas promovidas pela rapaziada. Foi um período de descobertas sonoras logo aos 14 anos.
Ouça “The Perfect Kiss”:
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Lobão – “O Rock Errou” (1986)
O Lobão é um babaca, odeio demais o discurso dele, sua verborragia e sua apropriação de alguns movimentos (inclusive junta a cena de música independente por um tempo). Mas esse disco é incontestável. Um clássico do rock brasileiro. Me marcou muito porque Lobão era a ovelha negra da música brasileira quando eu mais precisava de ídolos tortos que falassem português. Preso com drogas, falava merda direto, tudo o que molecada queria. Fui no show de lançamento desse disco em Belém, num ginásio lotado e barril de pólvora A abertura ficou a cargo dos não menos excelentes Plebe Rude, na época lançando o épico “O Concreto Já Rachou”. O rock errou e é bom que deixem ele errado por muito tempo.
Ouça “Revanche”:
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Led Zeppelin – “Coda” (1982)
Primeiro disco de rock que escutei na vida – comecei bem ou não? Me foi aplicado por um primo mais velho que morava com os meus pais em Belém no começo da década de 80. Ouvindo hoje continua fantástico. Não é algo que eu bote na vitrola com frequência mas não tem como não curtir.
Ouça “Bonzo’s Montreux”:
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strong>Vários – “Ataque Sonoro” (1985)
Eu sempre gostei de punk rock, mas sempre tive medo de meter em confusão. E ainda gosto. Me identifico com o fogo, com o furor, com a força bruta da música. O “Ataque Sonoro” me introduziu ao mundo das punk rocks songs em 1984. Eu era tão novinho, mas tinha muitos amigos antenados que colecionavam esse som. Lembre daquele disco amarelo clássico do Cólera, um álbum cinza do Lobotomia, os Garotos Podres fazendo cocô. Ainda piro em músicas simples e punk rock e ainda saio correndo de confusão!
Ouça: “Skate Gralha” (Grinders):
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Nirvana – “Nervermind” (1991)
Esse disco me introduziu na vida de músico. Foi com ele que eu decidi que queria ter banda e fazer uma vivência ao máximo possível na música, Sem ele eu não faria o que faço. Fato. Ouvi pela primeira vez numa fita cassete extended (que cabia quarenta e cinco minutos em um lado). Do outro lado tinha um disco de um tal de Red Hot Chilli Peppers chamado “Blood Sugar Sex Magic”. Essa fita foi tão copiada aqui em Natal que a matriz quebrou e tive que fazer uma cópia da cópia. Clássico absoluto da minha geração, uma pena nunca ter visto ao vivo.
Ouça “Polly”:
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Legião Urbana – “Dois” (1986)
Eu nunca gostei muito das músicas da Legião Urbana, mas ninguém escreveu no rock mais que Renato Russo e aquelas letras me atingiam em cheio. No auge da estourada deles no Brasil, esse show chegou em Belém. Ginásio lotado, com mais gente do que cabia, estrutura precária, eles tocam umas cinco músicas e mandam “Índios”, alguém acerta uma sandália no Renato Russo, ele sai do show, a banda sai do palco em seguida. Fim de show, quebra-quebra geral. Acho que até eu tirei minha casquinha e quebrei algo nesse dia (uma garrafa de refrigerante talvez). Disco foda de uma das maiores bandas brasileiras (se não a maior) de todos os tempos. Os recalcados não aceitam, mas essa é a verdade!
Ouça “Índios”:
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Iron Maiden – “Live After Death” (1985)
O disco que eu mais ouvi entre os doze e os dezoito anos. Só consegui ver o Iron ao vivo agora, aos 40, esse ano, em Nuremberg na Alemanha. Demais!
Ouça “Aces High”:
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Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Kid Foguete”.