Ver um show do Pin Ups é um acontecimento. A banda está naquele entendimento de que “quanto mais raro melhor” (ou “mais caro”, como alguns produtores gostam de aproveitar – não era o caso aqui, pois SESC salvando os bolsos é sempre bem-vindo). São apresentações esporádicas, separadas por anos, já que a vocalista Alê Briganti se escafedeu do Brasil (e quem não gostaria, em muitos momentos?).
Mas quando se encontram, Zé Antônio Algodoal, Alê Briganti, Flávio Cavichioli e Adriano Cintra quase exigem aos ouvidos prudentes que compareçam e ouçam. Afinal, o Pin Ups é uma daquelas bandas essenciais, não importa qual fase da discografia você prefira. O show deste 12 de maio de 2023, no SESC Paulista, até deixou a desejar de público, talvez pela divulgação tacanha, mas foi como qualquer show do Pin Ups: divertido.
Mas, veja, “divertido” de modo relativo. Eu acompanho a banda desde antes do lançamento de “Time Will Burn”, de 1990, um dos discos mais legais já feitos no Brasil. As diferenças de lá pra cá são muitas, no som, na formação, na postura, no público e, claro, em mim mesmo. Todos envelhecemos, criamos responsabilidades e tals. Naqueles tempos de Espaço Retrô e afins era um deus-nos-acuda e o fígado e os neurônios de hoje não nos deixam mentir. Uma coisa não mudou: é bacana ver a banda ao vivo, mesmo sóbrio – ou no caso desse show especificamente, especialmente sóbrio. Não lembro de quantos shows do Pin Ups vi nessa condição e devem ter sido muito poucos, especialmente nos raros realizados neste século.
É relativo porque o “divertido” tem muito de memória afetiva: é como ver a adolescência repassada ao vivo. Mas o Pin Ups não é só passado, é bom salientar. O disco mais recente, “Long Time No See”, de 2019, é bom, como algum bom disco recente do Superchunk, por exemplo. As pessoas envelhecem, mas algumas guardam em si esse fulgor jovem que explode na primeira empunhada de guitarra (ou de baixo, ou de baqueta).
Não quero parecer piegas. O show significa muito mais pra Briganti e pra Algodoal do que pra qualquer um ali. Só que algo tão raro é preciso ser degustado. E a banda demonstrou um carinho celebratório, o que refletiu na sequência de músicas apresentadas, passando por quase todos as disco. Por motivo óbvio, “Long Time No See” compareceu com quatro canções, incluindo “You Can Have Anything You Want”, uma das minhas preferidas, assim como “Jodie Foster” também teve quatro. Infelizmente, só uma do “Time Will Burn”: “Sonic Butterflies”, que contou com Rodrigo Carneiro, do Mickey Junkies, no vocal.
A banda ainda adicionou duas versões de bandas que traduzem o Pin Ups: “Detroit Has A Skyline”, do Superchunk, e “You Made Me Realise”, do My Bloody Valentine, encerrando a apresentação.
Guitarras altas, algum ruído-barulho, um som não muito azeitado, nada do que o admirador da banda não esteja acostumado. O show do Pin Ups juntou memória, celebração, noise, paixão e uma possibilidade de que seja o último (talvez não seja, como lembrei aqui, em um relato bem melhor). Se não for, quem sabe daqui a quatro, cinco anos. Mas é duro esperar tanto tempo.
01. TV Set
02. You Can Have Anything You Want
03. Jodie Foster
04. Portraits Of Lust
05. Sonic Butterflies
06. Mexican Tale
07. Separate Ways
08. Witkin
09. Crack
10. It’s Your Turn
11. Going On
12. You Shoudn’t Go Away
13. Guts
14. Detroit Has A Skyline (Superchunk cover)
15. Confusion
16. You Made Me Realise (My Bloody Valentine cover)