Rômulo Alexis (sopros e eletrônicos) e Wagner Ramos (bateria e eletrônicos) colocam o Rádio Diáspora pra funcionar novamente. “Negro Humor”, o décimo disco, foi lançado em 23 de março de 2021, pelas mãos da Brava.
O trabalho, segundo a dupla, “investiga a dicotomia do humor para novamente fazer reverberar por meio da música sua luta contra a violência física e simbólica sofrida pela população negra”.
“O humor como faceta da tristeza. A gargalhada como opressão simbólica, ressaltando a contradição de uma sociedade que, ao tratar com aprazimento chacotas racistas, reconhece e reafirma com leveza a brutalidade do discurso dominante”, segue o texto de apresentação da obra.
O disco começa com “Despacho”, com a fala contundente do advogado Hédio Silva Júnior, mestre em Direito pela PUC-SP e advogado das Religiões Afro-brasileiras no Supremo Tribunal Federal, o topo da cadeia jurídica brasileiras. “Ele questiona sobre uma norma em discussão no Congresso visando proibir o uso de galinhas nos terreiros de candomblé e umbanda. Silva Júnior aponta que para proteger os direitos dos animais todos se prontificam, mas para defender a vida dos jovens negros e periféricos não existe a mesma mobilização”, um bom resumo da nossa sociedade racista.
Os samples são o ponto alto do disco, equilibrando com a importância dos sopros sempre dramáticos de Alexis (a Hollywood de 1960 adoraria sua música) e a bateria subterrânea de Ramos. Há Grande Otelo (“Negro Humor”), Martinho Da Vila (“Meia-Noite”) e Muhammad Ali e Malcolm X – ambos novamente reverberando na cabeça de uma outra geração, graças ao bom filme de Regine King, “Uma Noite Em Miami” (One Night In Miami, 2021).
O temas são curtos pra essa especialidade. O disco, ao todo, tem trinta e três minutos, mas há a impressão que poderíamos ficar a madrugada inteira, seis horas inteiras, ouvindo a dupla improvisar, mesmo que sua biblioteca de samples se esgote em pouco tempo.
Isso porque atrás dos utensílios eletrônicos, há uma dupla em grande desenvoltura musical – e não é deste disco, é de um bom tempo.
Alexis (ouça também “AEVUM”, que o músico lançou em fevereiro, pela mesma Brava) e Ramos dão um sentido nostálgico à luta antirracista. Não que seja um floreio pra atrair mais atenção ao discurso. É que tal luta acontece desde que a nossa sociedade foi construída. A dupla, com seu jazz cinematográfico-noir, só azeita uma forma artística pra continuar lutando.
1. Despacho
2. Muhammad Ali . 1
3. Muhammad Ali . 2
4. Negro Humor
5. A.H.M. Al-Shabazz . 1
6. A.H.M. Al-Shabazz . 2
7. Meia-noite
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