Mais uma vez saindo pela Sê-lo!, a dupla Radio Diáspora, de Rômulo Alexis e Wagner Ramos, chega com “Radio Diaspora 2”, sucessor do ótimo EP de estreia “Radio Diaspora”, de 2016 (leia o artigo e ouça aqui na íntegra). O lançamento é de 21 de agosto de 2017.
Na Radio Diaspora, Rômulo apresenta trompete, flauta e demais instrumentos de sopro, além dos vocais. Já Wagner manda na bateria e bateria eletrônica. De acordo com eles, a dupla “conjuga os verbos sonoros da Diáspora africana, através do experimentalismo do jazz e da improvisação livres, desenvolvendo uma dilatação dos sinais da cultura negra pela zonas de intensidade, ressignificando o fluxo de informação que marca a pluralidade da experiência musical dos afro-descendentes”.
“A Diáspora denota um conceito flexível e dinâmico de identidade cultural. Envolve uma consciência transcultural e um sentimento de pertencimento ancorado na subjetividade humana. Este arquipélago móvel de pertencimento é gerado através das experiências acumuladas de toda a ascendência afro-diáspora e seus códigos sonoros, vocais, polirrítmicos e polifônicos que se espalharam por todo o mundo num fluxo marcado pela expropriação, genocídio, escravidão e, acima de tudo, resistência e invenção”, continua.
“Num contraponto à representação monopolística da cultura branca, a Radio Diaspora trabalha em material gerado através da polifonia sonora do patrimônio cultural negro, amostrando e ampliando referências que são adicionadas como desencadeantes de abordagens energéticas em relação à épica diaspórica da cultura negra. Rejeitando a submissão às tradições e à cultura como dominação, a Radio Diaspora usa a arte como uma força instintiva”, termina.
O disco amplia o oferecido no primeiro EP, com o jazz-de-suspense que coloca em sons o medo e a angústia que um povo todo convive desde a Diáspora forçada. Quem está à espreita? A morte e a violência podem acontecer a qualquer momento. As vozes em declamação deste disco (artifício que não constava no anterior) aliado aos tambores – ouça a incrível “Kalunga Grande” – dão ainda mais dramaticidade ao proposto.
O jazz dos quilombos, o ruído sonoro da escravidão marcada na história, “a música é a arma (…) pra exorcizar toda violência através do ruído”.
Se “BlackBird” e “Birdland” se voltam pras fronteiras do jazz (e blues) “padrão” estadunidense, “Meninos”, com elementos eletrônicos, e Afoxé” revolvem todo o tema numa mistura apropriada pro problema histórico local. A dupla Radio Diaspora imprime uma marca única no jazz mundial (posso afirmar isso?), porque sua improvisação livre vem de uma gama de sentimentos que permite a absorção de unidades sonoras vindas de experiências histórias intransferíveis. Cada povo tem as suas tais experiências, o que fazer com ela é que são os quinhentos.
A dupla aqui mirou no alvo e sua arma foi certeira.
Todas as canções foram executadas e produzidas pela própria dupla. As seis faixas abaixo estão divididas em lados A e B no possível lançamento em vinil ou cassete (procure o selo pra mais informações).
1. Poesia Sonora
2. Kalunga Grande
3. BlackBird
4. Birdland
5. Meninos
6. Afoxé