“Cegos Pugilistas” começa com uma imagem simbólica forte de Teresina e de como, mesmo em uma cidade que a própria Cidade Estéril chama de pequena demais, as linhas complexas – juventude, repressão – irrompem fortemente no ser. A pessoa perde sua cidade idealizada pra uma locação brutalmente real. No espanto de tornar-se adulto e perceber a construção ao redor como uma estrutura perversa. Matar, roubar, morrer – é com temas tão pungentes que a banda dialoga de modo a representar sonoramente a interação com a cidade num crescimento cruel de quem vai notando no local, que anteriormente tanto se relacionava, um mundo novo e muito mais perverso.
Através de imagens muitos humanas e cruéis, o epicentro dramático de “Cegos Pugilistas” está no embate em não “perder” outro dia. Não é a transformação do dia-a-dia numa guerra, mas sobre a resistência e a força que isso requer. Somos guiados numa narrativa de que é impossível parar, mas até as mínimas pausas na correria diária contribuem pra fortalecer a resistência.
Constantemente, as letras abordam a necessidade de descansar e repousar, mesmo nas noites em claro. Aliás, como “não dormir nunca mais” em meio a tanto cansaço é uma expressão que situa bem “Cegos Pugilista” – é muito difícil repousar quando a aceleração parece ser um axioma básico da existência.
Os motivos de desânimo listados são vários, mas todo dia é dia de nascer. Mais do que reconhecer um ciclo ininterrupto, é necessário apropriar as ferramentas dispostas pro desânimo não vencer. Não é um luta simples muito menos trivial, mas ela é a todo instante e quer dizer muita coisa num conglomerado urbano em que a disposição da cidade – sem-tetos, chefes, policiais – exige uma força sem igual de cada um.
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1. Ilhas Temporárias
2. Seu Zé
3. Mais Um Prato
4. Retrato Falado
5. Castelo
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NOTA: 6,0
Lançamento: 11 de abril de 2017
Duração: 19 minutos e 25 segundos
Selo: Geração TrisTherezina
Produção: Nilo Roque e Pablo Vinícius