“Um EP sobre o fim de todas as coisas”: é a informação que consta no Bandcamp oficial da banda. Logo em “lar”, a primeira música, é visualizado a impossibilidade do silêncio. Este que é intensificado com o tempo fechado. Você ouve coisas em outros cômodos, e o que vem até ti é filtrado por uma impossibilidade enorme de pertencer. É como se todo espaço de inclusão estivesse fechado. Se sentir deslocado é uma análise visceral da consciência de afirmar o não pertencimento.
Porque se sentir deslocado traz muitos questionamentos; você vai tentar se lembrar de momentos passados, como tentar entrar no sentimento (assim como adentrar na zona de interação no “lar” da primeira faixa) é inacessível. Realmente as coisas têm um fim e uma morte; mas reside o fantasma de tudo o que já existiu. Tudo o que um dia experimentamos como real e concreto. Eu ouço “nada mais restará” e acredito que posso interagir em absoluto com o título do EP; eu ouço as guitarras, o vocal calmo e tento caminhar com o “eliminadorzinho” neste terreno incerto em que o passado (melhor dizendo: as ruminações do pretérito) interferem em qualquer coisa presente.
A primeira vez que ouvi o EP era em uma sexta-feira quente, estava sozinho em casa. Sem amigos. Sem bebedeira. E este EP me trouxe uma nostalgia não definida, incerta. Eu abri a janela pra tomar um ar porque muitas memórias surgiam e muitas coisas paravam de fazer sentido, enquanto outras ganhavam mais corpo e uma claridade recém-adquirida.
Talvez todas essas atribuições sejam estúpidas e a música não é capaz de produzir TANTAS coisas. Quem vai saber? Eu sei que após abrir a janela, com o ar quente interiorano se apropriando da sala, a confusão não pareceu tão idiota. Isso porque mesmo que os meninos do Eliminadorzinho (trio de São Paulo) falem que é um EP sobre o fim de todas as coisas, há aqui uma vontade. Há a declaração de inadequação constante, sim (e talvez esta seja mais frequente). Mas “nada mais restará.” responde a esses questionamentos; o EP inteiro é um atestado de confusão mas também um reconhecimento de narrativas (mesmo que tortas, mesmo que subscritas) existentes e que formam alguém. Que formam uma vida. Que reconhecem uma passagem humana – com tudo de bom e ruim que é intrínseco a isso.
As emoções que “nada mais restará.” suscitam não trazem nenhuma conclusão. Mas é uma constante lembrança de que passos foram deixados pra trás e cada uma de suas pegadas deixou uma marca – mesmo que distante, mesmo que praticamente irreconhecível. Se acabamos de testemunhar fim da Bichano Records (que em dois anos de vida deu um gás enorme pra uma molecada espalhada pelo Brasil), os meninos do Eliminadorzinho vêm pra lembrar que o bastão foi passado e quem poderia imaginar que as coisas estariam assim, não é mesmo?
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1. lar
2. nada mais restará
3. claustro (sem vez)
4. das vezes que conversamos na cama e acabamos dormindo
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NOTA: 7,0
Lançamento: 30 de agosto de 2016
Duração: 18 minutos e 50 segundos
Selo: Transtorninho Records
Produção: Gabriel Eliott Garcia, João Pedro Haddad e Tiago Souto Schützer