Os meninos do Lomba Raivosa! afirmam que querem se acabar. Viver num “turbilhão de loucuras”. O punk direto da banda é certeiro nesse mérito: de ser ainda o mesmo jovem bobo e ainda continuar atrás de cervejas e diversão nos botecos da cidade. Esse é o meio, segundo eles mesmos, que faz com que deixem de sentir essa vontade crônica de ficar afastado de todos. A própria afirmação “eu nunca tô feliz” é duvidosa porque contrasta com o ritmo empolgante dos instrumentais e vocais. É isto o que a banda faz: maximizar o que sente em determinado momento de modo que tudo fica mais intenso e divertido.
Porque eles sabem que existem os dias ruins e os dias bons, mas não pretendem fazer uma afirmação de autoajuda “as coisas boas vão chegar se você esperar” ou algo do tipo. Eles não enganam-nos (pois não pretendem) em nenhum momento. As coisas vêm duma vez, a necessidade de intensificar as sensações (se dopar) porque vamos todos “morrer em desespero”. Por essa intensidade ser, às vezes, mais do que o indivíduo pode aguentar, não é surpreendente que indagações como “de que maneira eu vim parar aqui” são feitas, ainda que ocultamente, em boa parte das letras.
Essa tônica de empolgação, admitidamente, cobre uma casca de quem não está tão satisfeito com quem se tornou. A dor e o desprezo por si próprio são coisas bem pesadas pra se viver durante as vinte e quatro horas do dia, daí as táticas de escapismo que os sustentam numa cidade que impõe tanta coisa simultaneamente. Afinal, se obviamente eles querem se divertir, não querem compactuar com o modelo “bon vivant” que com certeza é boa parte do underground paulista.
“Carpe Lobem” trata justamente dessa dificuldade de continuar com suas condições carregadas desde criança em uma vida brutalmente adulta que – infelizmente – cada vez mais carrega uma característica doentia de se acostumar aos diversos sistemas de humilhação. E pra não cair numa autopiedade lamurienta eles afirmam que são uns “trastes” e que só conseguem ser um desastre (e, realmente, quem consegue ser mais do que isso?).
E assim vamos definhando: com pequenos vislumbres que iluminam momentaneamente o mundo em vão, com risadas e rotinas que nos descolam, um pouco, do embrutecimento da rotina e tentando prosseguir com o peso disso tudo.
Eu poderia ficar horas falando de como esse álbum diz muito a quem se acostumou à vida operária em São Paulo e continuou vivendo (preso) naquela loucura e, em alguns instantes, se ludibriou com sua forma disforme. Porque estamos todos cansados de reclamar, mas precisamos continuar ecoando nossa voz por aí. Mas o limite entre se expressar e ser um daqueles velhos ranzinzas é tênue, então que exista um acordo tácito explícito: aceitar que estamos perdidos e que em alguns dias vamos ter que fazer hora extra porque o chefe quer ou por que a grana tá curta.
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01. Turbilhão De Loucura
02. Enrugado
03. Eu Nunca Tô Feliz
04. Marionete De Satã
05. O Sabor Do Desespero
06. Que Quarto É Esse?
07. Eu, Testa
08. A Elite Perfumada, Bem Vestida E Interesseira Do Underground
09. Pega Leve, Você Não Tem Mais 15 Anos
10. Normal
11. Traste
12. Definhando
13. Caçador De Querubim
14. Sanidade Na Metade
15. Segura O Véio!
16. Carpe Lobem
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NOTA: 7,5
Lançamento: 28 de abril de 2017
Duração: 26 minutos e 09 segundos
Selo: Laja Records e Red Star Recordings
Produção: Caio Monfort