RESENHA: THE CHILD WHO KILLED THE SWAN – LVT

Homenagear Lars Von Trier é forçar aquela discussão sobre a diferenciação entre o homem e o artista. O cineasta dinamarquês é bom artista, com bons filmes, técnica, inovação, experimentação. Mas a pessoa Lars Von Trier é um ignóbil de primeira linha. Suas “polêmicas” não são polêmicas, são acintes muitas vezes, como quando se “descobriu” nazista e causou mal-estar no Festival de Cannes (“Eu entendo Hitler. Claro que ele fez algumas coisas erradas. Mas eu o compreendo”).

Ele é um perfeito “articulador de imagens”, como gostam de chamá-lo, e é difícil discordar dessa afirmação vendo filmes como “Melancolia”, “Anticristo”, “Dogville”, “Os Idiotas” etc. entretanto, sua pretensão em ser o que imagina ser o amarra a um cáustico quadro degenerativo, como um Dorian Gray imune ao tempo, cujas obras vão ficando e mitificando o artista a despeito de tudo de abominável que o homem possa dizer ou fazer. Ao olhar no espelho, o artista vê o homem ou deveria vê-lo, com toda a podridão, manchado, sujo, carcomido.

Patrick Araújo pegou guitarras e apetrechos ligados a ela pra reverenciar o cineasta, em “LvT”, disco do seu The Child Who Killed The Swan. Cita o “Dogma 95′, o “Dançando No Escuro” (filme onde arrumou treta com Björk), Nicole Kidman, “Melancolia” e por aí vai, tirando da guitarra, basicamente o único instrumento do disco, o máximo de ruído e interpretação.

Há bons momentos, como a série “D1: A couple (or Into The Nature)”, “D2: The Kirsten’s Planet” e “D3: S. And C.’s Joe”, onde ele se mostra mais sutil (especialmente a parte 2), mas eles são limitados. Em toda parte, é um trabalho de exibição de habilidades. Alguns trechos até lembram trilhas que poderiam ser apropriadas em algum filme, embora pareçam loopings da mesma cena.

A admirar a ousadia de Araújo: experimentar e não facilitar. Nesse sentido, está em alinhado com o homenageado. Mas talvez o ouvinte não queira chegar até o momento em que se percebe isso. A rudeza dos timbres e ruídos, além do vocal indescritível em “The Icelandic Blind”, leva ao afastamento, não pelos mesmos motivos que a pessoa Von Trier nos afasta dele, mas o efeito no final das contas é o mesmo.

1. The Idiot’s Dogme
2. The Icelandic Blind
3. Nicole (or 1+9)
4. D1: A Couple (or Into The Nature)
5. D2: The Kirsten’s Planet
6. D3: S. And C.’s Joe
7. See You Soon, Jack

NOTA: 4,5
Lançamento: 5 de junho de 2018
Duração: 40 minutos e 02 segundos
Selo: Kowa Records
Produção: Patrick Araújo

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