O lançamento de Diasz pode ser encarado com uma compilação que amontoa um bocado de mutações sonoras cortadas abruptamente após cada faixa. É de um cuidado enraizado em músicas manipuladas, feitas no próprio quarto, mixtapes que circulam da vaporwave ao hip hop, e movimentos virtuais em constante diluições/reformatações. Sonicamente, “Low Gain/High Patience” é uma construção contínua de repaginações estéticas, como se estivesse presenciando, ao vivo, o produtor criar suas peças. Liricamente, ele se repete em vozes distorcidas que ressoam em comunhão à descontinuidade do álbum.
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Você sonhou e só lembra detalhes das imagens imaginadas e só consegue condensar a realidade presenciada com os resquícios incorpóreos do sonho. Olhou-se no espelho e teve um fluxo de consciência surgindo com projetos rigorosos e imagens avulsas que estiveram presentes ou ausentes da sua vida – de qualquer forma, estiveram sempre aí (mesmo que anunciado uma falta). Uma gota cai e não se sabe se é suor, lágrima ou sangue – ou uma fusão tão irreal quanto presente, marcando o piso do banheiro.
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Esbanjadas no clichê do “eu curto esse tipo de som”, as batidas lentas e arrastadas prosseguem. Ninguém se detém num site pequeno pra ler esse tipo de coisa, a não ser que por algum motivo meio doido isso chame sua atenção. Como discutir se a duração é apropriada ou não, como se qualquer coisa – a não ser os sons emitidos – tivesse importância, como se estas palavras fossem alterar experiência alguma. No entanto, “Low Gain/High Patience” engaja-se com o tipo de compromisso paradoxal que é não se deixar levar pelas próprias confabulações fictícias que abarrotam a vida virtual. Pode-se ouvir estas canções repetidas vezes em sequência. Pode-se deixar a mesma faixa tocando por horas. Elas sempre se desdobram. Elas sempre estão a caminho de ser outra coisa. Perde-se em loops de batidas incompletas numa continuidade de repetições diferentes. Apressa-se.
Ouvindo transformações nascerem de repetições aliadas a uma ambiência, “tentar sair de um vício sem deixar para trás/…e quando lembrar vai se arrepender”, tentando focar em algo que não a abstração sonora imposta como numa miragem de luzes incandescentes convocando a uma espiral.
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A verdadeira excitação provocada por V.Diasz é o desespero em absorver a aceleração com que a experiência se transmuta em outra coisa. Uma chance de “entender” uma sonoridade é erradicada assim que se apresenta. Em uma nuvem com vários arquivos de áudio, “Low Gain/High Patience” poderia ser classificado com um vício de manipulações, que não se ambienta em nenhuma hashtag pra proceder uma contínua mutação modeladora. Não é uma piada, mas não deixa de zombar, com um gesto afirmativo, da forma que a música é catalogada atualmente. Todos falhamos em absorver movimento, todos falhamos em simulá-lo.
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01. Intro (Buraco Negro Lo-fi)
02. Slowgain
03. A Baile Called Quest (mashup)
04. Arma Branda Feat. FELAPPI (RJ)
05. Wanna Be Old Prod. Dante Augusto (RN)
06. Vcious Prod. Hatori (MG) – Ambient Mix
07. GooseBumps Feat. Luan Rodrigues Art (RN)
08. New Old Style
09. Veni Vidi Vici – Black Lips cover
10. Vcious Prod. Hatori – Radio EDIT 03:28
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NOTA: 7,0
Lançamento: 23 de julho de 2018
Duração: 20 minutos e 54 segundos
Selo: Lovely Noise Records
Produção: V.Diasz