Havia um Velvet Underground pré-Velvet Underground. Em 1965, quando a banda engatinhava com Lou Reed, John Cale, Mo Tucker e Sterling Morrison (logo após a fracassada tentativa da dupla principal numa banda chamada The Primitives e uma primeira demo desconjuntada – e fácil de achar nas coletâneas sobre o grupo), ela foi apadrinhada pelo já famoso Andy Warhol, que acrescentava à sua paleta de esquisitices o quarteto.
Uma série de shows itinerantes, Exploding Plastic Inevitable, serviu pra promover a banda e fazer com que aquelas músicas ganhassem corpo, até que em julho de 1966 saiu o primeiro single “All Tomorrow’s Parties”, com “I’ll Be Your Mirror” no lado B. Dois meses depois, “Sunday Morning” seria lançado como segunda música de trabalho (com “Femme Fatale” no lado B) do que viria a ser o primeiro disco, o brilhante “The Velvet Underground & Nico”, de 1967, o “disco da banana”.
Essa história todo mundo conhece, mas há em dezembro de 1966 o lançamento de um trabalho “estranho” à obra do Velvet: é o single “Loop”, uma obra que resumia todo o experimentalismo que o grupo colocava ao vivo nas apresentações do EPI, embora “Loop” não fosse exatamente uma música criada, produzida e executada pelo Velvet Underground. Era apenas John Cale.
Entretanto, sob a tutela de Warhol aquele lançamento sairia com a assinatura VU. Ele queria promover a banda e estava com mais uma ferramenta em mãos, a editoria de uma revista modernista chamada “Aspen”, cuja edição número três vinha num formato de frasco de detergente. Junto, um flexdisc, que continha “Loop”, uma canção de quinze minutos cheia de ruídos de guitarra em… looping. A loucura incluía ao comprador ingressos pra primeira LSD Conference, em Berkeley, Califórnia.
O resultado do experimento instrumental de Cale teve profundas consequências no futuro não só da banda. Há quem diga, por exemplo, que Lou Reed ficou impressionado com “Loop”, a ponto de usá-la como base de direcionamento do quinto disco solo, “Metal Machine Music”, de 1975, que embora se considere um jeito radical de se livrar da obrigação contratual (ou até mesmo uma piada), é tido como um dos precursores do noise music. “Loop” é também considerada por alguns críticos como uma das canções-base pro industrial music. Exagero?
Mas “Loop” é, acima de tudo, o DNA do Velvet Underground: “White Light/White Heat”, de 1968 (especialmente “The Gift” e “SIster Ray”), se finca nessa teoria noise, embora com linhas melódicas guiando as loucuras ao redor.
“Loop”, bem como a quase totalidade das gravações iniciais, de demonstração, ao vivo, ensaios e afins, é bem fácil de ser achada inclusive pra compra, embora não no formato original. Várias coletâneas da banda trazem a canção, inclusive em formatos menores, editados, de quatro a cinco minutos.
No YouTube é possível encontrar alguns áudio-vídeos com a música, um deles com a curiosa descrição/aviso: “o vinil original continha um fechamento em loop que se repetia até o final”.
Sim, lado A e Lado B se repetem como uma coisa só. Um looping, uma experiência. O Velvet Underground sendo Velvet Underground.
Lado A
1. Loop
Lado B
1. Loop