“Você não entendeu a natureza confidencial do ódio infinito né eu sei de uma saída para o nada jogo humano será metade imagem código cuidado com ironia ninguém fica imune ideia da mentira cai noite na pirâmide invisível que aconteceu foi coincidência fogo rua tudo era puro muito fumo vento quente dente sujo.”. Na ordem, a frase não tem sentido algum. Mas a música do Test não é pra fazer algum sentido imediato. É pra ser repostulada a cada audição, como um retrabalha pessoal do ouvinte, transformando a ordem e reposicionando a lógica da maneira que quiser.
A banda não desmente essa intenção (“são 54 músicas que, coincidentemente, é o mesmo número de cartas de um baralho tradicional e a gente, desde o começo, teve a ideia de fazer um baralho do ‘O Jogo Humano'”, disse Thiago Barata em entrevista ao site Sound Like Us; “(…) o número de faixas é porque não são músicas completas. Não tem começo, meio e fim. Cada uma é uma palavra, formando frases. Você constrói uma música completa do jeito que você quiser”, reformça João Kombi).
A subversão lógica do Test está na alma do projeto. Sem espaço pra tocar, virou uma banda de rua, instrumentos e aparelhagem na calçada e manda ver. Assim, ganhou notoriedade enquanto a maioria dos seus contemporâneas exercita o músculo da reclamação por falta de oportunidades. A dupla não espera, age.
“O Jogo Humano”, com cinquenta e quatro músicas esperando pra serem reorganizadas por você, é até curto: são apenas pouco mais de vinte e oito minutos. A ideia acaba soando como um disco interativo com múltiplos caminhos. Mas a porrada está em cada segundo, não há escapatória, qual seja o caminho escolhido. O vocal gutural, a guitarra rasgante, a bateria insana. Não há motivos pra arrefecer. O Test taí pra acelerar a inquietação. De “Você” ao ponto final, há um longo caminho de arte crua, brutal, legítima e vívida.
Enquanto no jogo humano real vence quem tem mais possibilidades financeiras, políticas e de organização social, o Test se recusa a ser derrotado pelo sistema. No seu jogo, há sempre a possibilidade de vencer. “Você não entendeu a natureza confidencial do ódio? Eu sei de uma saída, o jogo humano será metade imagem, código, ironia, ninguém fica imune”, muito menos à música do Test.
Ouça na íntegra:
Aqui, a versão da própria banda, exclusiva pro Bandcamp:
O disco foi masterizado no Audio Siege (Portland) por Brad Boatright (Sleep, Full Of Hell, YOB) e, segundo a dupla no texto oficial, “é, literalmente, um jogo da música extrema. De palavras, faixas, criatividade”.
01. Você
02. Não
03. Entendeu
04. A
05. Natureza
06. Confidencial
07. Do
08. Ódio
09. Infinito
10. Né
11. Eu
12. Sei
13. De
14. Uma
15. Saída
16. Para
17. O
18. Nada
19. Jogo
20. Humano
21. Será
22. Metade
23. Imagem
24. Código
25. Cuidado
26. Com
27. Ironia
28. Ninguém
29. Fica
30. Imune
31. Ideia
32. Da
33. Mentira
34. Cai
35. Noite
36. Na
37. Pirâmide
38. Invisível
39. Que
40. Aconteceu
41. Foi
42. Coincidência
43. Fogo
44. Rua
45. Tudo
46. Era
47. Puro
48. Muito
49. Fumo
50. Vento
51. Quente
52. Dente
53. Sujo
54. .
Foto que abre o artigo: Chris Justtino