Nunca fui lá muito afeito ao som do The Body, embora compreenda o respeito em torno do que produzem Lee Buford e Chip King. Mas “I’ve Seen All I Need To See” é pesado de um jeito esmagador o suficiente pra não se deixar passar despercebido.
The Body agora me acertou em cheio. No peito, na cabeça, como um tijolo caindo a uma velocidade e peso que desafiam pra mais a força da gravidade. Não sobra nada do que ele atinge.
“Em seu novo álbum, The Body está novamente ultrapassando e testando os limites do estúdio pra explorar os extremos e a microtonalidade da distorção pra encontrar seu impacto máximo. O disco é The Body em sua forma mais incisivamente sombria, um monólito de ruído muito alto”, diz a frase muito bem construída no informa oficial do álbum.
Mas não é só isso. As distorções ainda vibram depois que o disco acaba. Pode restar uma dor de cabeça, pode ser preciso além de fones de ouvido uma aspirina pra apreciar “I’ve Seen All I Need To See”.
Aliás, um título curioso. Quem já ouviu o Body nos muitos lançamentos anteriores e até mesmo nas parcerias, como com que lançou com o Thou ano passado (vá aqui), chega a este disco, ouve e definitivamente se surpreende de que não havia ouvido tudo, muito menos visto tudo.
Os tempos são bicudos. Até mesmo os Esteites presenciaram uma tentativa de golpe incentivada pelo ex-ocupante da Casa Branca, o criminoso Donald Trump, que inspira o criminoso ocupante do Palácio do Planalto. Pode ser, então, que você não tenha visto (nem ouvido) de tudo, muito menos o que você precisa ver. Há ainda muitas batalhas por travar e, se tudo der certo, vencer.
Só que o mundo sombrio que o Body pinta em “I’ve Seen All I Need To See” não é nada agradável. As batalhas serão sangrentas e muitas vidas serão ceifadas (bom, no caso do Brasil, já estão mesmo e com anuência do Estado).
Não há trégua. O baixo vai ficar raspando e vibrando nas suas entranhas e nem adianta correr pra algo adocicado depois. A paulada vai persistir. Vai fazer parte do seu corpo, como um lembrete: até pode ser tentador desistir e se isolar, mas o mundo e a vida sempre terão uma forma de surpreender você.
O disco saiu neste dia 29 de janeiro de 2021, pelas mãos da Thrill Jockey.
Tem vocais adicionais de Chrissy Wolpert e Ben Eberle, foi gravado por Seth Manchester no Machines e masterizado por Matt Colton.
1. A Lament
2. Tied Up And Locked In
3. Eschatological Imperative
4. A Pain Of Knowing
5. The City Is Shelled
6. They Are Coming
7. The Handle/The Blade
8. Path Of Failure