UMA NOVA VISÃO: PLANETA TERRA 2011


Foto por Ricardo Matsukawa (Terra)

O Floga-se tem por padrão não se ater a uma só opinião. É uma equipe-de-um-homem-só, na maioria das vezes, e o resultado acaba tendo um lado apenas. Por isso, no caso dos shows mais importantes, é sempre bom ter gente com outra visão, escrevinhando por aqui.

Assim, vez por outra, pinta o “Uma Nova Visão”, um post que é exatamente isso: uma visão que tende a ser diferente da “oficial” do site.

Esse, do Planeta Terra 2011, é curioso: foi escrito pelo parça de shows Reinaldo Andreatta, que esteve comigo quase o tempo inteiro durante o festival, tomando todas e comentando as apresentações. Curioso porque, embora os gostos musicais sejam bem parecidos, expõe as divergências, como sempre deve ocorrer. Habituado aos grandes festivais ingleses, Andreatta acaba sendo uma boa base de comparação.

Eu já dei minha opinião aqui. Mas não há só uma verdade. Sempre há uma nova visão.

Que diferença isso faz?
Por Reinaldo Andreatta

Um festival bem organizado e cheio de atrações de peso, tanto internacionais como nacionais, merece todo o respeito e a vontade de que aconteça muitas e muitas vezes.

O Planeta Terra já aconteceu nos cafundós da Marginal Pinheiros, lugar que eu particularmente gostava, até porque naquela estrutura havia mais opções de entretenimento simultâneo – e olha que estamos comparando com o Playcenter, atual localização do nosso Glastonbury.

A organização e a qualidade do evento, em todos os detalhes, foi impecável e temos de entender que o público também ajudou, até por se tratar de uma camada da sociedade, ora sócio-economicamente privilegiada, ou se não, intelectualmente diferenciada e conectada à linguagem dos artistas, em sua maioria, expoentes da paz, do amor e da igualdade.

Isso tudo somado à pontualidade dos shows já seria um pano de fundo sensacional pra um festival de nível inglês mas, na verdade, mesmo com um lineup de respeito, incluindo Interpol, The Strokes, a chatinha Broken Social Scene, Groove Armada (não vi), Beady Eye, entre outras, o que presenciei foram performances boas do ponto de vista técnico e até de empolgação (nem sempre ingrediente imprescindível), mas não sai de lá com a alma lavada, como já aconteceu comigo inúmeras vezes, em outros festivais.

Saí de lá, sim, entendendo o poder do Strokes, que tinha um público fora do parque curtindo o show e aplaudindo como se estivessem lá dentro (sensacional). Saí de lá entendendo o que eu já acreditava há alguns anos, que os Gallagher teriam mesmo que pensar em projetos menores e deixar de lado aquela soberba besta de que eram os maiores do mundo. Saí de lá convencido de que pré-gravações são mais do que bem vindas, que ajudam muitas bandas (da ótima brasileira The Name aos raipadinhos do Toto Y Moi), mas que em alguns casos, como o Goldfrapp, atuam às avessas, tamanha desproporção entre pré-gravações e o que é feito ao vivo (aliás alguma coisa é feita ao vivo no show do Goldfrapp?).

De lá saí feliz, por encontrar um monte de gente legal, amigos, músicos, jornalistas, agitadores culturais, minha gatinha e um monte de shows interessantes, mas definitivamente não entendi nenhuma performance como ESPECIAL ou INCRÍVEL. Apenas boas performances de algumas bandas que até já estão naquela fase difícil de se segurar no topo com os produtores acabando com a essência original do som do artista.

Dois exemplos: quando o Interpol lançou o primeiro álbum, o perfeito “Turn On The Bright Lights” (2002), fiquei embasbacado com a inspiração dos New Yorkers. Mas de lá pra cá, tenho ouvido faixas pasteurizadas demais e sem muita inspiração. Não é à toa que o show fica mais frio. Quando eles tocam o citado álbum, as coisas começam literalmente a brilhar mais. Ou o Strokes. Esses fazem um sucesso estrondoso, parabéns, mas a distância entre o primeiro EP, com versões demos do que viria a ser o “Is This It”, e o último, com mixagem toda certinha e afinador de voz, na minha opinião, é broxante.

E os brasileiros? Ah, os brasileiros. The Name: ótima! Criolo: olha… Vou te dizer que o som é bom, o Ganjaman sabe fazer. Mas a poética não é pra mim, e até aí tudo bem, mas tem um monte de frases feitas e uma linguagem rasa de pedir licença e descrever isso e aquilo do nosso povo. Vi com muito respeito e sei que esse tipo de trabalho vende, mas quando entrou a Nação Zumbi, aí eu curti – e muito. Um guitarrista “hendrixiano” sensacional, músicos de técnica simples, raiz e um letrista/frontman por necessidade que dá um recado de verdade, com a poética que quero dos poetas e a verdade que não precisa ser chapada nem rasa. Já estava saindo de lá creditando à Nação o melhor show da noite.

Mas lá pro final veio o Bombay Bicycle Club. Essa foi muito boa. Humildes crianças londrinas desfilando o estilo poético rico, já engendrado nos recém nascidos daquela terra. É claro que aqui falo de meu gosto pessoal, construído a base de muito The Cure, The Smiths and stuff, então é claro que a conexão acontece melhor com uma banda que traz muitas das coisas que amo: melodias simples, porém com contundência e magia. Letras que falam de desilusões amorosas, mas de maneira sutil e com um nível de elaboração diferente, facilitado pela estética da língua inglesa, quero crer, e uma despretensão típica dos novos, seres mais evoluídos e prontos para construir uma sociedade mais igualitária e respeitadora.

Educadinhos, agradeceram quem não os abandonou para ver o show dos “The Strokers”.

O setlist? Segue aí:

01. Shuffle (moderna, retrô, tudo isso junto. Deliciosa!)
02. Your Eyes
03. Dust On The Ground
04. Open House
05. Bad Timing
06. Leave It
07. Lights Out, Words Gone
08. Ivy & Gold (destaque pra dancinha tipo quadrilha das meninas que não os abandonaram pra ver o Strokes)
09. Evening / Morning (pesada, dançante, alto astral)
10. Carry On Me
11. Lamplight
12. Steep
13. Magnet (hitzinho legal)
14. What You Want (“You start it right, You tread so light, You tease this love, You care enough”)
15. Always Like This (obra-prima)
16. What IF

Veja “You Eyes”:

“Always Like This”

O mundinho Indie vai bem, obrigado. O Brasil está definitivamente no circuito internacional de shows. O Planeta Terra é necessário pra consolidar isso mais e mais. Mas ainda há o que fazer: abrir mais espaço pra outras brasileiras, como num palco underground do underground, seria uma. Que isso sirva de incentivo para produtores e empresários brasileiros caretas e conservadores. Hello!!!, o mundo mudou e tem muita coisa legal embaixo do seu nariz. Mas pra eles, que diferença isso faz?

Reinaldo Andreatta é fanático por festivais pelo mundo afora e guitarrista do My New Device.

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Comentários

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4 comentários

  1. Finalmente alguém citou a locação original do Festival Planeta Terra no qual concordo que era muito mais interessante do que o Playcenter!

    Interpol e Strokes são bandas grandes consagradas mas claramente estão numa descendente incrível, o que eram para ser turnês dos mais recentes discos acabam não sendo pois de ambos são álbuns fracos com pouca inspiração, então o jeito é tocar o menor número de músicas do álbum mais recente e tocar antigas mesmo! No caso do Interpol deixaram de lado os maiores hits e tocaram algumas mais “obscuras” como The New e Lenght Of Love, já no caso do Strokes foi hit atrás de hit, sendo que se quisessem podiam ainda ter um 2º bis, mas talvez preguiça, conformismo e pequenez fez ter apenas 1 (tradicional) bis mesmo!

    Show memorável realmente não teve, mas, talvez por isso, aliado à ótima organização, a ansiedade pela próxima edição seja maior do que de costume!

  2. Puts eu também gosavai mais do antigo lugar onde era feito, para esse ano nem me empolguei para ir, pois já tinha visto os shows dos Headliners ai e na minha cabeça não seria melhor que aquilo e as coadjuvantes não me impulsionaram a ponto de correr atrás de um ingresso.

    Acho que a organização pecou em não usar a tática da “Banda Veia” para agradar a todos como nas edições anteriores que rolou Jesus And Mary Chain, DEVO.
    O Strokes já iria garantir a bilheteria mesmo um Flaming Lips, REM, Yo La Tengo, Teenage Fanclub que poucos conseguiram ver nessa ultima passada pelo Brasil, o coitado do Ash jogado em um palco estranho no SWU o Nada Surf, se no line up estivesse somente 3 dessas que citei tenho certeza que seria bem diferente agradaria a todos.

    Em outras edições teve momento que muita gente parou para pensar qual show ver por ter 2 bandas legais que tocaria ao mesmo tempo, nessa edição bati o olho no line up e achei estranho não rolar essa duvida, me arrependo até hoje de ter trocado o Breeders para ver o Bloc Party, mesmo já tendo visto o Breeders no finado Curitiba Pop Festival (saudades!!!) vi o Bloc Party e quando terminou corri lá no palco do Breeders em apenas 5 musicas que vi do Breeders o arrependimento causado foi brutal, já em outra edição na disputa DEVO x Rapture fui pela lógica as chances dos tiozões do DEVO voltar são menores e de morrerem são maiores e me diverti pra caralho.

    Uma mudança que deveria ter é o lance de colocar as bandas Brasileiras no começo só para fazer sala para quem chega cedo, já vi uns 10 shows da Nação e TODOS foram foda, Mombojó também é muito bom, me coloca a trinca Wander Wildner, Jupter Apple e o Frank Jorge no mesmo palco que nem fizeram na segunda edição do Curitiba Rock Festival (eles trocaram o “POP” por “Rock” na 2ª edição) aquilo foi de mais quase faltou fôlego para o Pixies que fecharia a noite.

    Por um outro lado 90% das pessoas que conheço que foram ao festival estavam lá para ver Strokes e Interpol e são bandas do coração dessa massa, assim como as que citei aqui são do meu coração muitos não viram Strokes e Interpol na primeira vez que estiveram aqui e isso muda muita coisa eu sabia que eles iriam se divertir de qualquer jeito e se divertiram mesmo.

    Faltou poder falar “Tem para todo gosto” nessa edição.

    Abraço

  3. Não vou chamar o BSS de chatinho (ainda mais depois de ontem!) mas o show deles lá desapontou. Não dá pra negar. E finalmente alguém que deu ao Bombay Bicycle Club o devido respeito que mereciam!

  4. Finalmente alguém falou do Bombay Bicycle Club,poucos viram o show deles,muitos assim que deu o horario do strokes foram imbora resultado,o show ficou relativamente fazio só sobrou os fans e realmente foi compenso ficar até o final,mas mesmo com poucas pessoas estava muito animado.Em suma ao meu ver foi um ótimo festival, unico problema foi que a organização coloco strokes logo de cara,com isso mais da metade dos ingreços foi somente para os fans do strokes e com isso quem queria ir no festival para ver outras bandas alem do strokes ficou sem ingreço.

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