Vive La Void é a alcunha que Sanae Yamada assumiu pra lançar seu primeiro disco-solo. Yamada é a metade do Moon Duo, uma das preferidas daqui da casa, que recentemente lançou essa bela dupla de discos, “Occult Architecture Vol. 1” (de 2016) e “Occult Architecture Vol. 2” (de 2017). A outra metade é o maluco Ripley Johnson.
O trabalho também recebe o título de “Vive La Void” e saiu dia 4 de maio de 2018, via Sacred Bones Records. São sete canções gravadas no Kaiku Studios, em Berlim, por Jonas Verwijnen e Phil Manley. Todas elas foram escritas e executadas por Yamada.
O resultado é uma viagem no tempo. Ok, a maioria das empreitadas musicais são exatamente isso, de uma forma ou de outra, olhando pro passado, pra aquilo que consumimos um dia e que se refere a alguma parte de nossas vidas. O túnel do tempo de Yamada parece passar por um universo colorido e sombrio como o de “Tron”, com trilha sonora de um Stereolab afetado por desilusões.
Ao longo das sete músicas, há variações sutis. Da hipnótica “Red Rider” à soturna “Blacktop”, ela usa o sintetizador pra construir sua passagem memorial. Não há como viver o presente sem ser afetado pelo ontem, entretanto há uma certeza nem sempre efetiva de que é possível reconstruir o já ocorrido. De que outra forma seria possível ter esperança ou um pingo de perspectiva?
Yamada sente que “o movimento da vida na esfera da consciência é esse processo de deixar rastros… Onde quer que vamos, com quem interagimos, com o que tocamos, deixamos e absorvemos esses traços invisíveis, esse resíduo de memória que perdura. Eu queria que as texturas sonoras desse disco explorassem esse estado de estar lá e não ali, de algo estar com você, mas não tangível”.
O que incomoda nessa anamnese é o fato de cada um construir sua própria verdade, caso contrário escreve-se o senso comum, símbolos de uma época acima da memória efetiva. Você viveu aquilo ou apenas sabe que aquilo existiu? Yamada se apega a um tempo que provavelmente não viveu, construído por tais símbolos, e o reformula pra uma nova realidade, a sua própria, a da sua arte.
“Vive La Void” é prazeroso justamente por habitar essa terra de ninguém: por possibilitar a construção pessoal de uma identidade vivida e por ser isso que causa incômodo. No embate, como ouvido em “Atlantis”, a terra perdida, com uma bela e lânguida melodia preenchida por sons e vozes dispersos como fantasmas, nada disso parece ser verdade, apenas fruto da imaginação ou da memória.
1. Matter
2. Red Rider
3. Death Money
4. Smoke
5. Blacktop
6. Devil
7. Atlantis